segunda-feira, 29 de agosto de 2011

AVC mata mais que câncer e violência no Ceará;

O médico diagnosticara pressão alta. Ainda assim, o pedreiro aposentado nem se importou com a espreita constante da doença diante dos seus deslizes nos cuidados com a saúde. Já com 82 anos, os encontros com amigos, regados a cerveja, salgadinhos e espetinhos eram denunciados pela esposa quando nas visitas inconstantes ao médico, que o repreendia, à toa.

Na tarde do último dia 20, vieram os sinais de alerta. “Senti uma dormência danada nas pernas, depois uma fraqueza, a visão ficou turva”. Manoel Martins foi, então, levado ao hospital pela esposa Luzia Martins, 51. O diagnóstico por pouco não o inseriu na estatística mais funesta da saúde do Estado. Seu Manoel havia sofrido um acidente vascular cerebral (AVC), a enfermidade que mais mata no Ceará.

A doença ainda mantém seu Manoel internado no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), com um quadro considerado estável pela equipe médica.

O ranking dos grandes males que mais acometem os cearenses foi divulgado neste ano, pelo relatório Situação de Saúde do Ceará, emitido pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Trata-se do mais recente mapeamento acerca da mortalidade e da morbidade da população, realizado no período de 2006 a 2009.

As mortes decorrentes das doenças do aparelho circulatório, como as cerebrovasculares, são seguidas pelos cânceres de diversos tipos e por causas externas, pondo em evidência os homicídios e os acidentes de trânsito.

As doenças do aparelho respiratório, como pneumonia e asma, são as campeãs de internações, à frente das patologias infecciosas e parasitárias, como dengue, leishmaniose e hepatite, e das enfermidades do aparelho circulatório, a exemplo do AVC e do infarto.

O médico João José Carvalho, diretor da Unidade de AVC, do HGF, lembra que a doença é a que mais mata também no Brasil. Ainda assim, o Ceará, a nível nacional, é privilegiado. “O Ceará é o único estado da federação que possui um Programa (Programa de Atenção Integral e Integrada ao AVC) específico”, diz.

O Programa, elaborado ao final de 2005 a partir de estudos realizados para melhor compreender a realidade do AVC no Estado, tornou-se política de governo em 2007. À época, já se registravam altos índices de morte. “O problema do AVC é antigo, por isso buscamos formas de melhor tratar esse problema”, ratifica o médico.

O programa traçava linhas mestras para nortear as investidas contra o AVC. Dentre algumas ações, como estudos epidemiológicos e notificações compulsórias de todos os casos nos hospitais, houve a criação da Unidade do AVC, no HGF, em atividade desde 2009. “Não existe no Brasil nada igual. Hoje, a gente sabe exatamente o que fazer contra o AVC. Nosso problema agora são os hospitais de apoio, que quase não existem”, declara.

Segundo ele, a ideia era que o HGF tratasse a fase aguda do AVC. Depois, o paciente seria encaminhado para reabilitação em outro local.

O médico revela que as mortes por AVC no Ceará ainda não regrediram, mas o Estado está bem melhor preparado hoje do que há cinco anos. A meta é, em um prazo de quatro anos, criar outras unidades semelhantes no Interior e fortalecer hospitais de apoio na Capital. “Tínhamos consciência de que o resultado viria a longo prazo. Em 2014, esperamos que nenhum cearense esteja há mais de 1 hora de um centro específico de atendimento de AVC”, planeja.

O quê ENTENDA A NOTÍCIA:

O AVC, o câncer e os homicídios se projetam como grandes vilões dos cearenses, de acordo com o relatório emitido neste ano pela Sesa. O POVO inicia hoje série sobre as maiores causas de morte e internações do Estado, abordando o que o estado tem feito para minimizar as estatísticas.

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