terça-feira, 24 de abril de 2012

Transposição pode ficar até 60% do tempo sem utilização


Segundo engenheiro, projeto de integração do São Francisco pode passar maior parte do tempo ocioso

A realização de pequenas obras pode ser importante para resolver o problema de escassez de água no Nordeste, defendeu o engenheiro civil e ex-diretor regional do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Cássio Borges, durante palestra proferida ontem no VII Fórum Água em Pauta, evento realizado pela Revista Imprensa e sediado pelo Dnocs.

Segundo ele, o projeto de Integração do Rio São Francisco pode passar 60% do tempo ocioso, em um período de cem anos. Isso porque as chuvas seriam suficientes para suprir a necessidade de água da região durante 60 anos, sendo preciso utilizar a água da transposição somente durante 40 anos. "Minha grande preocupação é que existe uma megalomania hidráulica. As pessoas querem coisas grandes, mas faltam conhecimentos sobre hidrologia. Se eu fosse diretor do Dnocs hoje, faria o que o Dnocs fez no passado: colocaria todo mundo para estudar. Acredito que a realização de pequenas obras poderia ajudar a solucionar o problema (da escassez de água)", afirma.

Projeto

Pelo atual Projeto de Integração do Rio São Francisco, a outorga concedida pela Agência Nacional de Águas (ANA) é para uma vazão contínua de 26 metros cúbicos por segundo (m³/s) e de 127 m³/s somente quando o reservatório de Sobradinho estiver vertendo água ou com 94% de sua capacidade. Dos 26 m³/s, 18,5 m³/s serão para o eixo Norte, que beneficiará os estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os outros 7,5 m³/s serão para o eixo leste, que percorrerá o território de Pernambuco e da Paraíba. "Quando se falava em 320 m³/s, nós chegamos ao final dessa discussão com 18,5 m³/s. Para muitos, é pouquíssima água. Para mim, não é", destaca Borges, acrescentando que essas águas serão para abastecimento humano e animal.

Importância

Conforme o ex-diretor do Dnocs, o volume de água disponível pelo Projeto para o Ceará será de 8 m³/s, menor que a vazão regularizada do Açude Orós, que é de 12 m³/s. "Esse volume vai gerar um impacto positivo. No entanto, a grande importância do Projeto de Integração do Rio São Francisco é a sinergia que ele vai provocar na utilização da água acumulada nos açudes. Será possível utilizar mais as águas acumuladas nos açudes. A vazão do Orós, por exemplo, poderá chegar a 18 m³/s ou 20m³/s".

Água em 2015

Segundo o titular da Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará, César Augusto Pinheiro, o eixo Norte do Projeto deverá ser concluído em 2014, bem como uma barragem e um canal que serão construídos em Jati para distribuir as águas para diversas localidades. A previsão é que a água do Rio São Francisco comece a chegar ao Ceará em 2015.

Desafio é consumo sustentável

Apesar da importância que a água possui para a existência e manutenção da vida, a discussão sobre como consumi-la de forma sustentável ainda não despertou completamente o interesse das pessoas. Nesse processo, a imprensa assume um papel de destaque, alertando e estimulando o debate em torno do tema. Mas como inserir a água nas pautas dos noticiários? Para discutir esse tema, o II Fórum Água em Pauta, realizado ontem, na sede do Dnocs, promoveu o painel "Desafios e dificuldades para inserir a pauta ´Água´ no cotidiano do noticiário regional".

De acordo com a jornalista Maristela Crispim, responsável pela página de Gestão Ambiental do Diário do Nordeste e uma das convidadas para participar do painel, tratar o tema aproximando-o da realidade das pessoas e mostrando que elas também podem fazer alguma coisa para ajudar a conservar a água do planeta é essencial para despertar a atenção do público.

"Às vezes, na correria do dia a dia, a gente esquece de coisas essenciais, como o fato de que só existe vida com água. O jornalismo tem o papel de despertar a audiência para isso", diz. Ela destaca que, apesar da escassez de água no planeta, o Brasil é privilegiado, pois possui muitas reservas. Mas isso acaba influenciando no pensamento das pessoas. "Talvez por termos tantas reservas sejamos tão desleixados".

Diário do Nordeste
DHAFINE MAZZA
REPÓRTER
FOTO: ANTÔNIO VICELMO

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