terça-feira, 12 de maio de 2015

NO CEARÁ: Imóveis do 'Minha Casa' terão atraso de 6 meses

As mais de 35 mil unidades habitacionais que estão sendo construídas no Ceará por meio do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) deverão ser entregues com um atraso médio de, no mínimo, seis meses. A lentidão nas obras é reflexo da falta de pagamento do governo federal às empresas que executam os serviços, um problema observado em todo o Brasil. No Estado, há 26 construtoras à espera de uma dívida estimada entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões.

"Todas as obras no Ceará vão atrasar em pelo menos seis meses. A nossa insegurança está muito grande, porque o governo ainda não regularizou os pagamentos. Existem atrasos que chegam a 60 e até 90 dias. Mas a média fica entre 30 e 45 dias", afirma o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro.

Prejuízos crescem

De acordo com ele, os prejuízos nos canteiros de obras do MCMV só aumentam, levando as empresas a demitir mais trabalhadores da construção civil, problema que começou ainda em setembro de 2014. Até o último mês de março, cerca de 3.500 operários haviam sido dispensados, quantidade que já foi superada em abril e nos primeiros dias de maio.

"Não quero ser leviano e chutar um novo número, pois não tenho os dados atualizados. Mas posso falar, com certeza, que cresceu. Sem pagamento, não há como manter o pessoal necessário para tocar os serviços em um bom ritmo. Por causa dessa grave situação, as obras do programa estão praticamente paradas no Ceará", acrescenta Montenegro.

Outras cidades

Além de Fortaleza e cidades da região metropolitana, também recebem empreendimentos do MCMV municípios como Quixadá, Quixeramobim, Crato, Camocim, Juazeiro do Norte, Barbalha e Sobral. O presidente do Sinduscon-CE revela que, por várias vezes, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil tiveram de ajustar os cronogramas das obras devido à redução no ritmo dos serviços.

"Além da importância social para do projeto para o País, entramos no programa também pela regularidade dos pagamentos, o que nos deu, a princípio, uma segurança. Uma empresa que executasse o serviço previsto para determinado mês, por exemplo, recebia o pagamento dois dias depois. Mas caímos numa armadilha", reclama.

Gastos fixos

Ao passo que o governo atrasa o repasse da verba, Montenegro observa que as construtoras precisam "se virar" para manter os serviços com um número mínimo de operários e arcar com os gastos fixos, algo mais difícil para as empresas que não têm grande capital de giro. Como exemplo, ele cita despesas com água, energia elétrica, materiais de construção, mestres de obra e engenheiros.

"O governo não reajusta o valor dos nossos pagamentos, mas os custos com energia e materiais subiram ainda mais recentemente, agravando a situação", destaca. Ele ainda lembra que, só para colocar determinada obra no ritmo inicial de produção, são necessários cerca de dois meses. Por isso, não há como fugir do atraso na entrega dos empreendimentos.

Segundo André Montenegro, o Sinduscon-CE está seguindo as orientações da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), cobrando com outros sindicatos a resolução do problema junto ao Ministério das Cidades e ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Débito nacional

Em todo o País, conforme dados da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), a dívida do governo com as empresas somava aproximadamente R$ 1,2 bilhão na última semana. Uma parte desse valor teria sido paga. Além do Minha Casa, Minha Vida, obras de rodovias e de aeroportos também estão com problema.


DIÁRIO DO NORDESTE - Raone Saraiva Repórter

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