segunda-feira, 6 de junho de 2016

LAUDOS DE VÍTIMAS DA CHACINA DE MESSEJANA APONTAM EXECUÇÕES SUMÁRIAS

A frieza e a covardia dos autores da chacina da Grande Messejana, supostamente praticada por policiais militares, estão descritas nos laudos cadavéricos de nove adolescentes e dois adultos executados em novembro de 2015. Há quase sete meses, pelo menos 38 assassinos invadiram comunidades e decretaram pena de morte para 11 pessoas. Até agora, ninguém foi preso pela Polícia ou denunciado pelo Ministério Público do Estado.

O POVO teve acesso, com exclusividade, a documentos da investigação da CGD e narra, a seguir, a cena dos crimes pela ótica dos exames de corpo de delito. As execuções ocorreram entre 0h20min e 3h57min, do dia 12/11. Foram três horas e 37 minutos de terror.
Uma agonia para Antonio Alisson Inácio Cardoso, 16. Entre as onze vítimas surpreendidas pelo grupo de justiceiros, que seria formado por policiais militares, o adolescente foi o mais atingido. No corpo dele, os legistas encontraram sete perfurações de entrada de projétil de arma de fogo.


Dos sete disparos, três foram pelas costas. Provavelmente quando tentava escapar dos criminosos. Os balaços, segundo os peritos, perfuraram os pulmões e o fizeram cair. Já deitado e agonizando, o rapaz recebeu dois tiros na cabeça, um deles de cima para baixo no meio do crânio e outro na região frontal. Assinatura típica de um matador contumaz. Alisson morreu, segundo o exame de corpo de delito, por hemorragias interna e externa. Três projéteis foram extraídos do corpo dele e encaminhados para exames balísticos e comparação com as armas apreendidas.


O também adolescente Patrício João Pinho Leite, 16, não teve chance de defesa. Ele e Francisco Elenildo Pereira Chagas, 41, diferente de algumas vítimas, sequer correram. Dos onze assassinados, Patrício e Francisco foram os que levaram menos tiros. Um para cada um, mas fatais.


A necropsia de Patrício é taxativa. O garoto foi executado com um tiro no meio da cabeça. Pela descrição do exame, a trajetória da bala foi “de cima para baixo em linha reta”. Provavelmente, antes de ser morto, Patrício foi ajoelhado ou sentado pelos homicidas. A bala, de acordo com o laudo, “fragmentou estruturas ósseas do crânio” da vítima.


Já Francisco Elenildo recebeu um disparo que lhe perfurou o pulmão direito e o coração. Morreu na hora e em seu corpo foi encontrado um projétil alojado no tórax.


À queima roupa

Dos onze laudos que narram parte da tragédia, apenas um usa a expressão “a curta distância” numa referência de que possivelmente alguns assassinos (ou um assassino) chegaram muito perto da vítima para eliminá-la. Os outros exames não informam isso, mas dão indícios sobre a posição do executor e do atingido no momento do crime.


Jardel Lima dos Santos, 17, foi abatido por quatro tiros. O de misericórdia — jargão usado quando a vítima, já rendida, é atingida à queima-roupa —, foi disparado contra o rosto e o balaço se alojou no cérebro. O exame externo do corpo de Jardel constatou quatro “orifícios circulares compatíveis com a entrada de projéteis de arma de fogo e com características de tiro à distância. Exceto uma das lesões que apresenta características de tiro a curta distância.


O matador (ou matadores) de Jardel o acertou mais uma vez na cabeça, no lado direito do tórax e na região dorsal — nas costas. O rapaz teve traumatismo crânio-encefálico, hemorragias e sangrou em uma das ruas do Curió.


O POVO

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